A Paix O De Cristo Segundo Mel Gibson
Manuel Antônio de Castro
É um filme extraordinário. Os meios de comunicação fizeram dele algo ordinário. E, em geral, as pessoas tendem a repetir o que eles dizem. Pena. Não incentivam a uma visão mais atenta e nem convidam a pensar e a refletir. Daí poder se dizer deles que são ordinários. Não educam. Então no que diz respeito a este filme só disseram banalidades. As críticas que tenho lido prendem-se, em geral a aspectos secundários. Ou então criticam o que o filme não tratou, mas gostariam que tratasse. Porque não é assim, não é assado: esse seria o filme de quem critica e não o do Mel Gibson. Há dois problemas, em geral, nessas críticas, provindas de preconceitos. O primeiro é historiográfico: foi assim, não foi, houve essa violência, não houve. Os evangelhos não narram isso. Ora, a obra de arte cria a própria realidade e não representa nada. O que representa a obra de Proust? O que representa Grande sertão: veredas? Se representassem ficariam reduzidos a meros documentos ou reportagens da época. O poder manifestativo da obra de arte cria o próprio tempo, o próprio real, um real sempre em construção. A historiografia nada sabe nem tem a dizer sobre obras de arte. O outro é mais arraigado: o positivismo com sua secularização. A ciência moderna estabeleceu como único real o que ela apresenta como real e verdadeiro. Só há uma verdade: a científica. E então a paixão amorosa não é verdadeira? Nem por isso é científica. O extraordinário não é real para o positivismo. E aí qualquer dimensão do sagrado se torna ou ficção ou ilusão ou superstição. É a prepotência da ciência, hoje ultrapassada. A própria ciência não consegue entender a natureza, daí haver mais de uma teoria. Mas o ranço positivista e secular ainda perdura. Porém, o sagrado e o mistério se fazem presentes em toda obra de arte, se for grande. Ora, justamente, o filme tem como centro o sagrado e o mistério, ligados ao próprio homem e sua dimensão sagrada. É