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Ouvi falar da pátria nos Estados Unidos. Encontrei verdadeiro patriotismo no povo; procurei-o muitas vezes em vão nos que o dirigem. Isto compreende-se facilmente por analogia: o despotismo deprava mais o que se submete do que quem o impõe. Nas monarquias absolutas, o rei freqüentemente tem muitas virtudes, mas os cortesãos são sempre vis. Por isso, creio que em todos os governos, quaisquer que eles sejam, a vileza servirá a força e encontraremos a adulação em torno do poder. E conheço apenas um meio de impedir que os homens se degradem: é não conceder a ninguém um poder absoluto, suscetível de nos envilecer.
O maior perigo das repúblicas americanas reside na onipotência da maioria. Os governos perigam ordinariamente por falta de poder ou pela tirania. No primeiro caso o poder foge-lhes; tiram-lho, no outro caso. Muitas pessoas, vendo cair os estados democráticos em anarquia, pensaram que o governo nesses casos era naturalmente fraco e sem poder. A verdade é que, estando a guerra acesa entre os partidos, o governo perde a sua ação sobre a sociedade. Mas eu não creio que a natureza de um estado democrático seja de falta de forças ou de recursos; ao contrário, é quase sempre o abuso das suas forças e o mau emprego dos seus recursos que o fazem perigar. A anarquia nasce quase sempre da tirania ou da sua inabilidade, mas não da sua falta de poder. É preciso não confundir a estabilidade com a força, a grandiosidade da coisa com a sua duração. Nas repúblicas democráticas o poder que dirige a sociedade não é estável, porque lhe faltam freqüentemente pulso e objetivo. Mas, em todo o lado onde se instala, a sua força é quase irreprimível. Se algum dia a