OS UNIVERSAIS Porfirio Boecio E Ockham
(Porfírio, Boécio, Ockham)
Bento Silva Santos
(UFES – Departamento de Filosofia)1
I. A QUERELA MEDIEVAL DOS UNIVERSAIS – O PROBLEMA
Antes de explicitar a problemática inerente aos Universais, impõem-se observações preliminares acerca do objeto de estudo, de seus pressupostos e paradoxos. Uma vez descrita a história do problema dos Universais, distinguiremos duas problemáticas fundamentais da questão que o texto de
Porfírio de Tiro formulou e legou aos Medievais.
A. Objeto, pressupostos e paradoxos do problema
De onde provém o “problema” que os Medievais designaram como
“Querela dos Universais? Terá sido o texto fundador da Isagoge de Porfírio no século III d.C. que fez eclodir teses fortes chamadas “nominalismo” e
“realismo”? Supondo, porém, que o “problema dos Universais” seja um corpus estranho à Isagoge, o movimento complexo da exegese do conjunto do corpus aristotélico, que veicula um platonismo residual, terá sido então o
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Os textos aqui disponibilizados são o resultado de uma pesquisa intitulada A Querela
Medieval dos Universais: as principais interpretações (séculos III-XIV), iniciada em 2001 com uma bolsa de recém-doutor concedida pelo CNPq e foi executada no Departamento de
Filosofia da UFRJ até maio de 2002. Desde então venho aprofundando a pesquisa sobre os
Universais no Departamento de Filosofia da UFES (www.ufes.br), da qual sou docente de
História da Filosofia Medieval desde 2002.
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responsável pelo emaranhado de conceitos, de objetos teóricos e de problemas dos quais o pensamento medieval extraiu, como uma de suas figuras possíveis, o problema dos Universais? É possível “ilustrá-lo” intuitivamente? Enfim, o problema se reduz às entidades historiográficas designadas sob as formas de
“realismo” e “nominalismo” ou remete a diversos domínios ou disciplinas mais fundamentais que concernem às relações entre ser, linguagem e pensamento, tais como teoria da percepção, ontologia dos qualia, teoria da cognição, semântica e