OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER - Teatro
1 ATO
Reina em minha alma uma serenidade maravilhosa, semelhante a doces manhãs de primavera que procuro fruir com todas as minhas forças. Estou tão feliz, meu amigo, e de tal modo mergulhado no tranqüilo sentimento da minha existência, que a minha arte sofre com isso. Neste momento, não seria capaz a coisa mais simples; e no entanto, nunca fui tão bom pintor como agora. Quando em torno de mim se exalam todos esses aromas deste vale encantador, o sol alto procura devassar a impenetrável penumbra da minha floresta, e apenas alguns dos seus raios conseguem insinuar-se no interior deste santuário, quando a beira da cascata, oculta sob os arbustos, descubro rente ao chão mil espécies de plantinhas diferentes; quando sinto bem próximo do meu coração o formigar de um pequeno mundo escondido sob ervas, essa multidão inumerável de pequeninos vermes e insetos cuja variedade desafia o observador, e sinto a presença do todo poderoso que nos criou a sua imagem e semelhança, e o sopro do seu infinito amor que nos sustenta e faz flutuar em um mundo de gloria eterna; então é quando o meu olhar escurece, e frequentemente digo a mim mesmo: ah, se você pudesse exprimir tudo isso! Se pudesse passar para o papel tudo o que palpita em você com tanto calor e plenitude, de modo que essa obra se tornasse o espelho de sua alma, como sua alma é o espelho de deus!
Tenho conhecido muita gente, porém ainda não encontrei companhia. Não o que em mim atrai as pessoas: muitas delas prendem-se a mim e se afeiçoam. Contudo, me aborreço por não poder dar a todos maiores atenções. Tenho conhecido algumas criaturas esquisitas, nas quais tudo me é insuportável, especialmente suas demonstrações de amizade.
As crianças confiam em mim, contando-me mil coisas. Diverte-me imensamente lhes observar as pequenas paixões e a candura de seus ciúmes. Quando as observo, noto nesses pequenos seres o germe de todas as virtudes, de todas as faculdades que um dia lhes