Os primeiros dias de setembro
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Os primeiros dias de setembro foram muito quentes, me fizeram lembrar minha infância – boas lembranças que não retornam. Perdi meus pais muito cedo – ambos vítimas de câncer – e, a partir de então, decidi que queria cuidar das pessoas. Não queria que nenhuma criança passasse pelo mesmo sofrimento que eu, de perder um ente querido. Quando era jovem, por meus 20 anos, tornei-me médico. Com todo o crescimento industrial que ocorria – algo bom, a meu ver – pensei em abandonar a medicina e me tornar dono de alguma indústria de tecidos próspera, como meu primo. Meu objetivo era o lucro, e aquele era o momento certo para quem buscava isso. Estava realmente cegado, maravilhado com as novas oportunidades oriundas do sistema capitalista e do desenvolvimento industrial, pouco me importava com os processos de produção e com as baixas classes. Tinha meus planos em mente. Então fui até a fábrica de meu primo para obter os conhecimentos necessários para criar minha própria indústria. Começamos pelo gabinete dele. Me parecia muito confortável, me agradava, me proporcionava uma sensação de poder.. e tudo parecia tão fácil. Chegou a hora então de conhecer o setor de produção de tecidos. Era algo muito recente. Eu tinha ouvido falar que eram boas as condições de trabalho e que, mesmo assim, os operários se comportavam de maneira preguiçosa. Bom, saímos do gabinete do meu primo e passamos sobre o barro até chegar à fábrica. Quando a porta se abriu, vi uma grande massa de ar cinza saindo, com um cheiro horrível. Nós não pudemos ficar mais do que dez minutos na fábrica sem arfar para respirar. Como é possível para aquelas pessoas que ficam lá por doze ou quinze horas aguentar essa situação? Se levarmos em conta a alta temperatura e também a contaminação do ar é alguma coisa que me surpreende de maneira negativa. Era setembro, e ainda estava muito quente. Frente àquela situação, lembrei-me de minha motivação de vida: cuidar das pessoas e, principalmente, de crianças que,