Os Eleatas
O texto que se publica abaixo é uma transcrição,* revista, da quarta aula (de 20 de dezembro de 2009) do “Curso de História da Filosofia: do impulso grego ao abismo moderno”. – Mantém-se aqui o estilo oral.
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Carlos Nougué
Já percorremos um caminho importante no nosso curso e paramos na última aula com Xenófanes, com a afirmação de que ele não é propriamente o fundador da escola eleática. Nisto estou de acordo com Reale, contra certa e longa tradição. O fundador da escola eleática é Parmênides. E é por ele que começamos esta aula.
Relembremos: já tocamos aqui o assunto “univocidade do ser”, o monismo.
Tudo, na realidade, reduz-se a um, e vimos que, de alguma maneira, os filósofos jônios terminavam num monismo. Para eles, a complexidade do real se reduzia a uma só coisa: mono, monismo. Vimos mais. Vimos que Heráclito, o filósofo do devir, aquele que dizia que o ser não tem estabilidade, que o ser não é senão no devir, senão na transformação, ele mesmo, porque afirmava que os opostos, os contrários se identificam numa síntese, ele mesmo terminava numa espécie de monismo. Sim, porque, onde tudo se identifica, só há um, ao fim e ao cabo. Mas tanto com relação aos filósofos jônios como, sobretudo, com relação a Heráclito só se pode falar de monismo em sentido lato. O monismo stricto sensu começará com
Parmênides. A escola eleática era uma escola assim como o será a Academia de
Platão, etc., e é chamada eleática porque, com efeito, foi fundada por Parmênides em Eleia, na Magna Grécia, Itália meridional.
Estamos por volta do século V. Quem foi Parmênides, do ponto de vista biográfico? Interessa-nos sobretudo, quanto a isto, o fato de ele ter sido, ao que tudo indica (e até segundo autores antigos), um pitagórico; mas certamente de um pitagorismo heterodoxo, “herético”. Parece ter sido discípulo de um pitagórico chamado Almínia. Veremos que sua filosofia vai voltar-se contra dois alvos, ou