Os cinco saberes do pensamento complexo
(Pontos de Encontro entre as obras de Edgar Morin, Fernando Pessoa e Outros Escritores)
Humberto Mariotti
(Comunicação às 3as Conferências Internacionais de Epistemologia e Filosofia
Campus Acadêmico de Viseu, abril, 2002)
Refletir quer dizer, ao mesmo tempo: a) pesar, repesar, deixar descansar, imaginar sob diversos aspectos o problema, a idéia; b) olhar o seu próprio olhar olhando, refletir-se a si mesmo na reflexão. É preciso alimentar o conhecimento com a reflexão; é preciso alimentar a reflexão com o conhecimento. EDGAR MORIN
A vida é breve, a alma é vasta.
FERNANDO PESSOA
O esforço para a reforma do modelo de pensamento que hoje predomina em nossa cultura tem várias vertentes. Muitos são os seus proponentes e diversificadas as suas propostas. A obra de Edgar Morin está entre os pontos altos desse empreendimento. Em especial, destaca-se a sua mais importante concepção epistemológica, o pensamento complexo. Nele não predomina o raciocínio fragmentador (o modelo mental binário do “ou/ou”: ou amigo ou inimigo; ou bem ou mal; ou certo ou errado; ou ocidente ou oriente; etc.). Tampouco prevalece o utopismo da primazia do todo — o sistemismo reducionista.
Uma visão de mundo abrangente deve nascer da complementaridade, do entrelaçamento — do abraço, enfim — entre esses dois modelos mentais. Assim Morin denomina o pensamento complexo: o pensamento do abraço. Eis por que proponho, neste texto, falar sobre o que chamo de cinco saberes do pensamento complexo: saber ver, saber esperar, saber conversar, saber amar e saber abraçar. Todos estão inter-relacionados, abraçados, e por isso dependem uns dos outros para ser vividos em sua plenitude. Vejamos como.
SABER VER
Jean-Paul Sartre, entre outros, percebeu que nossa existência é confirmada pelo olhar do outro. Mas não é necessário ser um filósofo para chegar a essa conclusão. Peter Senge1 relata que entre certas tribos do Natal, na África