Os 18 brumarios
Lendo o prefácio de “Para a crítica da economia política” ¹ algo perturbou-me a alma de uma forma tal que neste que escrevo minha pretensão vai bem mais além o que meu aprofundamento no tema. Tendo como base para este trabalho material tão complexo quanto fascinante, ousarei esboçar uma interpretação de certos períodos históricos brasileiros sob o foco do materialismo histórico, tentando desta maneira relacioná-los tanto em períodos como também pontos de vista com trechos da história política francesa expressados brilhantemente por Marx em “O 18 brumário de Luís Bonaparte” e “As lutas de classe na França de 1848 a 1850” e outros textos que conforme aparecerão citarei.
Como dito no parágrafo anterior a leitura do prefácio de “Para a crítica da economia política” de 1859 proporcionou-me certo incômodo: a clareza com que Marx coloca a questão do modo de produção condicionando o processo geral de vida social e ainda “não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário é o seu ser social que determina sua consciência”². Tal incômodo consiste em não conseguir olhar a história, sobretudo a brasileira como meros acontecimentos acumulados em enciclopédias retratando apenas fatos aparentes, sem porquês e sem uma causalidade propulsora evidente.
O interesse de classe existente por detrás dos discursos e partidos políticos na França dos séculos XVIII e XIX também podem ser percebidos, como é o intuito do deste, na sociedade brasileira. Em 1789 insurgia na França a revolução, no Brasil, neste, mesmo ano, tínhamos a inconfidência mineira. Na França como escreve Hobsbawm³ fatores econômicos sociais e políticos colaboraram para que um espírito revolucionário se instaurasse em tal país. Já do outro lado do Atlântico fatores semelhantes colaboravam para a inconfidência mineira, por exemplo, os excessos cometidos pela administração portuguesa e a decadência da produção de ouro. Em ambos os casos é perceptível o interesse burguês, isto é, o