ordens religiosas
A assistência médica como caridade
O catolicismo português marcou o período colonial e atuou para a conformação da cultura médica.Como já observamos, não foram poucas as doenças e epidemias que atacaram os colonos e o restante da população indígena e negra. Varíola, disenteria, malária, febres tifóide e paratifoide, boubas, maculo(fístula anal), sífilis, lepra, elefantíase dos árabes (filariose) e opilação (ancilostomíase) eram as mais presentes.
A imensa maioria dos doentes recebia tratamento em casa. Não eram apenas os pobres que faziam tal opção, as pessoas de posse também cuidavam de suas doenças em casa, com médicos e cirurgiões, ou então com curiosos e curandeiros, enquanto as ordens religiosas ou laicas tratavam de seus próprios irmãos. Os brancos pobres, a gente de cor, escrava ou forra, soldados, marinheiros, forasteiros em geral, quando em estado de indigência, recebiam assistência espiritual e médica nos hospitais da Irmandade da Misericórdia.
Para a cultura cristã, o bem-estar físico era secundário diante da salvação espiritual. Além do mais, a doença podia ser percebida alternativamente como uma expressão do pecado ou da graça divina. O corpo como o repositório da alma imortal permaneceu como um legítimo objeto de cuidado. Os ensinamentos bíblicos e o exemplo de Jesus apontavam a devoção aos doentes como uma benção divina, não restrita apenas a praticantes treinados. A fé cristã enfatizava que o cuidado e a cura deveriam ser uma vocação popular, um ato de humildade consciente, portanto, um componente vital da caritas cristã.
Nos finais do século XVI, beneditinos, carmelitas e franciscanos se estabeleceram no Brasil. Além dos seminários e das pastorais, o trabalho caritativo, em especial o tratamento dos doentes, era parte essencial de suas ações. O culto dos santos servia também de escudo contra os perigos da vida ou de proteção contra os demônios. Muitos eram invocados pela sua qualidade de curar. Nas procissões