Oque é ser humano
1. Introdução: uma nova revolução paradigmática?
Alguns autores consideram que as grandes revoluções da era moderna que mudaram a concepção que temos de nós mesmos foram três, associadas a três grandes nomes da ciência: Copérnico, Darwin e Freud. As três revoluções tiveram consequências epistemológicas imediatas, sobre a metodologia científica em diversas áreas, sobretudo em astronomia, física, biologia, psicologia e sociologia. Mas, elas exerceram uma influência, que considero ainda mais importante, sobre a concepção que temos de nós mesmos, das nossas relações sociais, e da nossa relação com o mundo que nos rodeia. A influência mais profunda daquelas três revoluções situa-se, de facto, ao nível das nossas concepções filosóficas e religiosas.
É muito possível que estejamos neste momento no início de uma nova revolução paradigmática semelhante às que são associadas àqueles três cientistas, uma revolução provocada pelos rápidos desenvolvimentos das ciências cognitivas que se têm verificado sobretudo a partir de meados do século XX, e cujo fim e implicações não se vislumbram ainda por completo, permanecendo em aberto um vasto leque de hipóteses quanto a desenvolvimentos futuros. Trata-se, em alguns casos, de hipóteses altamente perturbadoras, mas ao mesmo tempo muito estimulantes, já que poderão conduzir a um melhor conhecimento de nós mesmos. São igualmente hipóteses que nos convidam a prosseguir um caminho sem regresso. Georges Vignaux afirma a este propósito que as novas perspectivas paradigmáticas criadas pelas ciências cognitivas “podem ainda fazer crer aos cépticos, arreigados aos funcionamentos disciplinares clássicos, que os estudos cognitivos não serão mais do que uma moda, uma etapa na reestruturação dos saberes. Isso não é verdade: os confrontos visíveis são também índices de numerosos intercâmbios invisíveis: estamos perante uma ‘revolução’ no sentido copernicano, nas formulações dos nossos