olá mané
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, define com perfil e ser este fulgor baço da terra que é Portugal a entristecer – brilho sem luz e sem arder, como o que o fogo-fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem, nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora! Valete, Fratres
Fernando Pessoa, in Mensagem
Nevoeiro – sistematização
O poema final de Mensagem apresenta uma caracterização negativa de Portugal, país marcado pela falta de identidade, de entusiasmo, de objetivos e de valores morais. Portugal é um pais fragmentado, mergulhado na incerteza, vivendo à sobra de um passado glorioso que morreu – “Como que o fogo-fáctuo encerra”. No entanto, o nevoeiro que envolve Portugal traz em si o gérman da mudança, indicia um outro tempo anunciado pela exclamação final – “É a Hora!” – e pela saudação latina – “Valete fratres”. É o tempo do Quinto Império, que dará à língua e cultura portuguesas uma dimensão eterna e universal.
O poema apresenta um tom melancólico:
• Caracterizado pela negativa deste “Portugal a entristecer”;
• Valor expressivo da personificação de Portugal;
• Falta de identidade nacional sublinhada pelas construções negativas;
• Estado de indefinição, incerteza, dispersão: ausência de totalidade – “nada é inteiro”;
• Simbologia do título;
• A síntese que a apóstrofe final encerra;
• O apelo “É a Hora!” como resposta às interrogações do poema “Screvo o meu livro à beira-mágoa”.
Nevoeiro – intertextualidade
145 No mais, Musa, no mais, que a lira tenho destemperada e a voz enrouquecida, e não do canto, mas de ver que venho cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho não no dá a pátria, não, que está metida no gosto da cobiça e na rudeza duma austera, apagada e vil tristeza.