Fantasma - Conto
De vez em quando, o homem sorri. Os dentes estão amarelados e podres e já não lhe restam muitos, e, aqueles que restam, doem-lhe. Quando chove, ele levanta-se, olha para o céu, abre a boca, fecha os olhos e levanta os braços. A rua, outrora movimentada, fica vazia. Ele gosta da chuva. Ela traz-lhe paz, faz-lhe companhia, ameniza-lhe a dor de dentes e, ao contrário das pessoas, ela volta sempre. Manuel tem quarenta e sete anos, mas parece ter setenta. A sua pele está suja e seca. A ambição matou-o.
Infância/Adolescência
Manuel Pimenta Cabral nasceu numa pequena cidade do norte. O seu pai era um reconhecido advogado da zona e a sua mãe era chefe de cozinha do restaurante mais frequentado da cidade. A casa onde viviam não era muito grande, mas também não era pequena, servia perfeitamente para o Manuel, os seus pais, os seus irmãos mais velhos, Júlia e Leonardo, e o seu único avô vivo.
O Mané – como os seus amigos o chamavam – tinha uma vida aparentemente perfeita. Os olhos esverdeados e o cabelo castanho-escuro (quase preto) faziam furor entre as miúdas da escola. As habilidades futebolísticas, com as quais se vangloriava, deram-lhe popularidade e tornaram-no líder do seu grupo de amigos. Mas, Mané não tinha só uma boa aparência e jeito para o futebol. Ele fora sempre um dos melhores alunos da sua turma e um filho exemplar. Além disso, existia a Diana, que, mesmo sendo mais velha, era a melhor e única amiga dele. As suas famílias sempre se deram bem e eles começaram a brincar desde muito novos. Todos os dias estavam juntos, na escola ou fora dela, e