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Obra Literária
Igor Unzer (12)
9° ano B
Trabalho feminino – Crônica de Olavo Bilac
O sábado, em que está sendo escrita esta crônica, arrasta-se aborrecido e pesado, numa enxurrada de lama, sob o açoite frio dos aguaceiros, cheio de uma melancolia que nada pode dissipar. Oh! estes dias de chuva! Deus sabe quanto suicídio tem por causa a sua fúnebre tristeza…
Deixando cair o livro que lia, o cronista levantou-se, abriu a janela, lançou um olhar entediado ao céu e à rua.
Que céu e que rua! Em cima uma planície cinzenta, manchada aqui e ali de nuvens mais escuras, que crescem, estendem-se em cargas-d’água barulhentas e grossas. Embaixo, lama e deserto… Os bondes que passam trazem as cortinas abaixadas, lustrosas de chuva, bambas, ao áspero vento que as sacode. E não se vê ninguém… Quem há que se atreve a afrontar a dureza desta úmida manhã, toda de. choro e enfaro.
Mas não… Lá vem, cosido à parede, um vulto apressado. É uma mulher. Mais perto agora, distinguem-se-lhe as feições, as roupas encharcadas, sob o puído guarda-chuva gotejante. A borrasca envolve-a, agasta-a, enraiva-se sobre ela, com uma crueldade implacável. A velha saia preta, colada às pernas, vem barrada de lama; os sapatos chapinham nas poças da água; e sempre cosida à parede, carregando um grande embrulho, tossindo e tremendo de frio, lutando contra a ventania furiosa, lá se vai a pobre — fantasma da pobreza, vítima de uma dura sorte, em busca do pão com que há de alimentar os filhos pequenos, e, quem sabe? talvez também um marido malandro, que fica, no calor da alcova, contando as tábuas do teto e fumando, enquanto a mísera tirita pelas ruas alagadas…
Em geral, nós, que só conhecemos as senhoras da nossa roda, pensamos que todas as mulheres são melindrosos alfenins que qualquer trabalho fadiga. Mas as que conhecemos são as flores humanas, cuidadosamente criadas na estufa da civilização; são uns encantadores e estranhos animais, metade