Obra de Manoel Bandeira - Estrela da vida inteira
“Estrela da Vida Inteira” (1965) é uma obra que reúne as poesias completas de Manuel Bandeira, que se destaca em nossa literatura por solidificar a poesia modernista em todas as suas implicações: o verso livre, liberdade criadora, linguagem coloquial, irreverência e a ampliação das temáticas comumente usadas nesse período, cultivando a capacidade de extrair poesias das coisas mais simples do cotidiano.
Foi a partir de temas até então considerados banais para a criação da “grande poesia”, como o quarto, o beco, o jornal, ações do cotidiano, que a coletânea “Estrela da Vida Inteira” revela poesias ricas em construção e significação, apesar de usar uma linguagem em que nada se ajusta aos moldes do simbolismo. “Poema tirado de uma notícia de jornal”, por exemplo, parece ser um recorte de notícia jornalística. Entretanto, é usando uma linguagem coloquial que ele combina crítica social com reflexão filosófica.
“João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado”.
(Estrela da Vida Inteira, p. 117)
Os poemas desta coletânea tratam também de temas já exploradas por escritores de diversas estéticas, mas nesta obra assumem uma nova dimensão. A saudade, a infância e a solidão – temas constantes no Romantismo – apresentam uma postura crítica, de forma simples e despojada:
“Então me levantei
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando…
– Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei”.
“Evocação do Recife” trata de uma forma subjetiva o “Recife da infância do eu-lírico”. Ele envolve vários temas, ligados ao folclore e à cultura popular. Descreve a cidade do Recife no fim do século XIX e, ao mesmo tempo, tematiza a infância, abordada numa perspectiva de experiência de vida: não