Não Sou Morador De Rua
Viver nas ruas não é uma opção individual nem uma escolha de livre vontade. Homens e mulheres são levados a essa situação por condições impostas como falta de trabalho e renda, rompimento dos vínculos familiares, adversidades pessoais e doenças, fatores ligados a desastres geográficos, como inundações e secas. Além de acabar na rua por uma série de perdas, a população nesta situação também está sujeita a todo tipo de preconceito. Não é raro ouvir expressões como “mendigos”, “pedintes”, “vagabundos”, “essa população é assim mesmo” para definir quem está na rua, julgamentos feitos sem levar em consideração que acima destas definições estão seres humanos em busca de respeito e oportunidade. A população em situação de rua enfrenta sozinha uma luta diária contra a fome, a exposição ao frio, ao calor, às chuvas. Muitas vezes a sociedade culpa estas pessoas pela condição em que se encontram da mesma forma como generaliza seu estado, ignorando a singularidade de cada indivíduo. A desumanização cria uma invisibilidade geradora de graves violações. Tratar essa população como um perigo, com indiferença ou descrença é apoiar a violência e marginalização a que é submetida e naturalizar a morte lenta e silenciosa destas pessoas. É o que mostra a trajetória de Ribamar, primeira das histórias de vida de pessoas atendidas pelo Programa Reviravolta que serão relatadas neste espaço. Ele está no programa há seis meses e, aos 49 anos, este teresinense que viveu a maior parte de sua vida na Freguesia do Ó conta que se viu em situação de rua pela primeira vez em 1999. Quatro anos antes estava em Ribeirão Preto, separado há pouco tempo, e morava no prédio em que trabalhava como metalúrgico quando foi demitido. Fatores
Desempregado, sem ter onde ficar e sem vínculos afetivos, Ribamar voltou para São Paulo em busca de trabalho e, segundo ele, “o emprego demorou mais para chegar que o dinheiro para acabar”. Fazia uso abusivo de