não sei quantas almas tenho
O poema em análise é um poema reflexivo por parte do sujeito lírico, este reflecte sobre a sua multiplicidade interior e o seu desconhecimento interior.
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
…
Na primeira estrofe, os primeiros 4 versos funcionam como introdução ao tema a desenvolver; nos restantes versos da estrofe dá-se o início do desenvolvimento desse mesmo tema.
Nos primeiros versos, o sujeito lírico faz referência a uma instabilidade na vida (verso 2 e 3), que é resultado de uma constante troca entre ortónimo e heterónimos. Por tantas vezes se expressar por outras vozes, o sujeito já nem se reconhece, parece-lhe que foi outro(s) que viveu a sua vida.
No quinto verso, o sujeito lírico expressa que não sente ter vida, só alma, ou seja, toda a sua vida foi pensada e racionalizada não dando espaço para emoções genuínas e puras. Como tal, tudo o que sente está na sua alma, e parece qua nada sente no corpo. Esta divisão Corpo/Alma é essencial neste poema (e na obra do autor) pois é aí que se encontra o centro das suas lamentações e reflexões. Mas o sujeito lírico reconhece e lamenta as desvantagens desta extrema racionalização: “Quem tem alma não tem calma.”, isto é, quem pensa não tem paz, tornando-se inconciliável pensar (racionalizar) e viver (sentir emoções puras). Os últimos dois versos desta estrofe salientam ainda essa ideia: “quem vê” é aquele que vive só a vida e não a pensa – aquele que sente – o pensamento impede a acção na vida.
É ainda de referir que nos últimos três versos está presente uma anáfora, que procura expressar uma sucessão de premissas…
Atento ao que eu sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce enão meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha