Notas sobre a formação social do nordeste
Denis de Mendonça Bernardes
A expressão Região Nordeste, ou, simplesmente Nordeste, possui, atualmente, significados já muito cristalizados que evocam uma série de imagens, tanto das suas características geográficas, quanto culturais, sociais e econômicas. Entre as primeiras, podemos citar elementos da paisagem que incluem desde o recorte litorâneo com suas praias e seus remanescentes coqueirais, até a paisagem mais seca do agreste e, sobretudo, a do sertão, com sua vegetação símbolo, formada pelas cactáceas e seus tipos humanos, entre o quais sobressai o vaqueiro com sua vestimenta de couro e sua pele curtida pelo sol1. No plano cultural, as imagens do Nordeste, dentro e fora da região estão cada vez mais marcadas pelas manifestações da chamada cultura popular: maracatu, bumba-meu* A literatura sobre o Nordeste e sobre a Questão regional é, como sabido, imensa. As indicações aqui feitas estão longe de esgotá-la e registram, apenas, uma pequena parte dela, sem, contudo, desconsiderar a importância do que não foi possível citar. 1
Uma vasta produção geográfica registrou esses aspectos da paisagem da região. Um genial trabalho, originalmente jornalístico, e um grande romance, cada um deles considerado, com razão, clássico, tiveram e continuam tendo uma profunda influência na formação de algumas imagens que impregnaram e impregnam as idéias associadas ao Nordeste: Os sertões (1902), de Euclides da Cunha e Vidas Secas (1939), de Graciliano Ramos.
Lua Nova, São Paulo, 71: 41-79, 2007
Notas sobre a formação social do Nordeste
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boi, reisado, coco de roda, chegança, frevo, caboclinho, literatura de cordel, xilogravuras, rabequeiros, ciranda, pastoril, entre outras. As imagens sociais do Nordeste, inclusive veiculadas pelas grandes emissoras de televisão, estão ligadas ao chamado coronelismo, ao cangaceirismo e à persistência de formas arcaicas de relações sociais, situadas no universo do pré-capitalismo. O Nordeste