Nonsense
A obra do esquizofrênico Bispo do Rosário tornou-se o modelo da arte brasileira de vanguarda do século XX. Até que ponto a loucura colabora para o surgimento do gênio – e vice-versa?
A produção de um indigente negro e nordestino diagnosticado como esquizofrênico que nem se considerava artista, mas sim o preposto de Deus na Terra, será a principal atração, entre 7 de setembro e 9 de dezembro, da 30ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo. Estarão expostas em várias formas e técnicas, como assemblages, objetos, estandartes e roupas, 348 obras de Arthur Bispo do Rosario (1909-1989). Ele trabalhou ao longo de 50 anos não num ateliê, mas numa cela-forte imunda, dentro de um hospício em condições precárias.
Não se trata da maior exposição já feita da obra de Bispo, mas é uma das mais consistentes na seleção. Ela marca o ápice de uma das carreiras póstumas mais bem-sucedidas no circuito das artes do Brasil. Em 1995, Bispo destacou-se no Pavilhão Brasileiro da Bienal de Veneza. Em 2003, o museu Jeu de Paume, em Paris, exibiu centenas de obras dele. Até 28 de outubro, o Victoria & Albert Museum de Londres abrigará 80 obras de Bispo. Ele se tornou uma figura glorificada, tema de dezenas de teses de doutorado e até personagem de filme de ficção. O longa-metragem O senhor do labirinto, de Geraldo Motta, com estreia prevista para o fim do ano, apresenta-o como um gênio. Críticos e artistas se apropriam de um trabalho que há 30 anos era considerado fruto dos delírios de um anormal. Seu caso estimula perguntas que geram outras perguntas. Que tipo de arte é esta? Como ela pode figurar no panteão dos inovadores do século XX? Quais as fronteiras da arte, da loucura e da razão? Em que momento o impulso criativo do artista dá lugar ao delírio? Até que ponto a loucura abre as comportas da criatividade?
Para obter as respostas, é preciso conhecer o homem antes da obra. Nascido na cidade de