Wittgenstein - tractatus
Richard Rorty Há profundas diferenças de opinião entre os filósofos contemporâneos sobre se vale a penar ler Wittgenstein e sobre o que se pode aprender dele. Eles discordam paralelamente sobre se problemas filosóficos, em qualquer sentido, são problemas de linguagem. Neste “paper” descreverei três perspectivas de Wittgenstein, correspondentes a três modos de pensar sobre a assim chamada “virada lingüística em filosofia”. Isso me ajudará a defender duas afirmações que fiz no passado. Primeira: nada há, em um sentido interessante, na afirmação de que problemas filosóficos são problemas filosóficos. Segundo: a “virada lingüística foi útil, todavia, para fazer a atenção dos filósofos passar do tópico da experiência em direção ao do comportamento lingüístico; essa mudança ajudou a romper com a crença no empirismo – e, mais amplamente, no representacionismo. Os filósofos contemporâneos que adotam para si mesmos o nome de naturalistas, de um modo típico são os vêem pouco valor no trabalho de Wittgenstein. Para eles, o tópico central da filosofia é o que Philip Pettit chama, na linguagem sellariana, de confronto entre “a imagem manifesta”e a “imagem científica”. A linguagem manifesta incorpora o que Pettit chama de “as idéias que emergem de nossas práticas cotidianas, espontâneas, tais como as idéias que temos naturalmente sobre liberdade e consciência, causação e lei, valor e dever”. A imagem científica, ele diz, “desafia-nos a procurar onde neste mundo pode haver espaço para o fenômeno que permanece vivo como nunca na imagem manifesta: consciência, liberdade, responsabilidade, bondade, virtudes e coisas semelhantes”[1]. Nada nos escritos de Wittgenstein é de qualquer ajuda para o que Pettit chama de problemas sobre o “lugar” desses fenômenos em um mundo de partículas físicas. Pois o assim chamado “problemas de lugar” são os bons e velhos problemas metafísicos – problemas sobre como a realidade verdadeira está relacionada com o real