Noite na taverna
" ‘A democracia não é o reino do número, é o reino do direito.'(..) não há tirania legítima; e a força do número não pode criar o mais elementar direito. O direito está na igualdade." (ALAIN - POLITIQUE)
Segundo Arthur LOVEJOY - um eminente historiador da Filosofia -, a mentalidade de uma época é apreensível a partir de diversos caminhos. Um desses caminhos possíveis poderia iniciar-se pela identificação daquelas palavras que num determinado período aparecem como indispensáveis na discussão de certos problemas. Essas palavras tornam-se "sagradas", no dizer de LOVEJOY. Isso ocorre porque a palavra, por um ou mais de seus significados, "está de acordo com as crenças prevalecentes, com a escala de valores e com os gostos de uma determinada época"(3). Nessas condições, a análise dos usos das palavras sagradas de um determinado período permitiria a captação dos sentimentos e dos valores que se associaram a esses usos e que, por isso mesmo, impregnaram a mentalidade da época. Transpondo essas idéias para o campo da Educação brasileira atual, acreditamos que será possível apreender grande parte da mentalidade pedagógica recente se a atenção for focalizada nos usos de algumas palavras como "autonomia", "gestão democrática", "participação" e outras correlatas. Porque essas palavras se tornaram "sagradas" e, como tais, portadoras, nos seus usos, das crenças, dos valores e dos modismos intelectuais que condicionam as discussões e a proposição de soluções dos problemas educacionais atuais. Quem, no Brasil de hoje, teria a ousadia de colocar-se contra a autonomia da Escola ou de pôr em dúvida a conveniência de sua gestão democrática? Quem teria a temeridade de afirmar que a insistência na participação comunitária na vida da Escola pode ser, em
1 Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo - USP, e Professor na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo -FEUSP. 2 Palestra realizada no Seminário