noite na taverna
Falou:
—Calai-vos, malditos! A imortalidade da alma!? Pobres doidos! E por que a alma é bela, por que não concebeis que esse ideal possa tornar-se lodo e podridão, como as faces belas da virgem morta não podeis crer que ele morra? Doidos! Nunca velada levastes por ventura uma noite à cabeceira de um cadáver? E então não duvidastes que ele não fosse morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras ia abrir-se, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! E por que também não sonhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! Não mil vezes! a alma não é como a lua, sempre moça, nua e bela em sue virgindade eterna! a vida não e mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais loira e bela. — Solfieri! É um insensato! O materialismo é árido como o deserto, é escuro como um túmulo! A nós frontes queimadas pelo mormaço