noite na taverna

2484 palavras 10 páginas
Primeiro capítulo Uma noite do século Silêncio, moços! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriagues pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia? —Cala-te, Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold, o louro cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? —Oh! Vazio! Meu copo está vazio! Olá, taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes que os lábios da garrafa são como os das mulheres: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava? Um conviva se ergueu entre a vozeira: contrastavam-se com as faces de moço as rugas da fronte e a rouxidão dos lábios convulsos. Por entre os cabelos prateava-se lhe o reflexo das luzes do festim.
Falou:
—Calai-vos, malditos! A imortalidade da alma!? Pobres doidos! E por que a alma é bela, por que não concebeis que esse ideal possa tornar-se lodo e podridão, como as faces belas da virgem morta não podeis crer que ele morra? Doidos! Nunca velada levastes por ventura uma noite à cabeceira de um cadáver? E então não duvidastes que ele não fosse morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras ia abrir-se, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! E por que também não sonhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! Não mil vezes! a alma não é como a lua, sempre moça, nua e bela em sue virgindade eterna! a vida não e mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais loira e bela. — Solfieri! É um insensato! O materialismo é árido como o deserto, é escuro como um túmulo! A nós frontes queimadas pelo mormaço

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