Noite dos “capitães da areia”
A cidade dormiu cedo.
A lua ilumina o céu, vem a voz de um negro do mar em frente.
Canta a amargura da sua vida desde que a amada se foi.
No trapiche as crianças já dormem.
A paz da noite envolve os esposos.
O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a morte está próxima.
Os corpos não se balançam mais no ritmo do amor.
Mas no coração dos dois meninos não há nenhum medo.
Somente paz, a paz da noite da Bahia.
Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilharam ainda mais no céu, o mar ficou de todo manso
(talvez que Iemanjá tivesse vindo também a ouvir música) e a cidade era como que um grande carrossel onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia.
Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas.
ABC DE CASTRO ALVES
“A praça do povo, amiga, como o céu é do condor”.
A praça é do povo, é o seu campo de batalha, onde ele protesta e luta.
Nãos vistes ainda a multidão se agitar na praça como um mar em tormenta que destrói navios e invade o cais?
No tempo do poeta Castro Alves Os negros eram escravos comprados em leilões, Mercadoria que se vendia, trocava e explorava. E em troca de tudo que eles deram ao branco, Sua força, seu suor, suas mulheres e filhas, A maciez da sua fala que adoçou a nossa fala, Sua liberdade, O branco lhe quis dar apenas, Além do chicote, os deuses que possuía.
Mas deuses os negros traziam da África, Os deuses da floresta e do deserto, E continuaram fiéis aos seus deuses Por mais que rezassem ao deuses Dos seus donos.
Do fundo das senzalas vinha o choro convulso