No tempo em que sexo era um bom assunto
[O sexo, a beleza, e o misterioso momento da paixão. Um profeta do instinto e dos grandes sentimentos recupera a verdadeira sensação do encanto]
É uma pena que a palavra sexo seja tão feia. Uma palavra pequena e feia e, em verdade, quase incompreensível. O que é sexo, afinal de contas? Quanto mais pensamos, menos sabemos.
A ciência diz que sexo é um instinto; mas o que é um instinto? Aparentemente, instinto é um hábito muito antigo que se enraizou. Mas um hábito, mesmo de longa data, tem que ter começado de alguma forma. E, na realidade, não existe um começo para o sexo. Onde há vida, há sexo. Portanto, sexo não é um “hábito” que tenha se criado.
Também falam de sexo como sendo um apetite, uma fome. Sim, um apetite; mas de quê? Um apetite de proliferação? Isso é ainda mais absurdo. Dizem que um pavão se cobre com suas belas penas para fascinar a fêmea, de modo que ela lhe permita satisfazer seu apetite de procriação. Mas por que não deveria a pavoa cobrir-se com belas penas para fascinar o pavão e satisfazer os seus desejos de procriação? Ela certamente deseja ovos e pavõezinhos, tanto quanto ele. Não é possível que ela exija do macho todo aquele esplendor azulado, de penas, para excitar-se. Não, absolutamente não.
Eu, pelo menos, nunca vi uma pavoa olhando pasmada para o esplendor azul e bronze do seu macho. Não acredito que ela possa enxergar isso. Não acredito, nem por um momento, que ela saiba a diferença entre azul; bronze, marrom ou verde.
[...]
Quão deliciosas, quão inocentes são as teorias! Mas por trás de todas elas existe uma intenção velada. E por trás das teorias sobre sexo existe uma implacável veneração velada: a vontade de negar e liquidar o mistério da beleza.
Sim, porque a beleza é um mistério. Você não pode comer beleza, nem vestir beleza. Bem, então a ciência diz que a beleza é apenas um truque para atrair a fêmea e induzi-la a procriar. Que ingenuidade! Como se a