Neoplatonismo
2.2.1 Contexto: o período religioso
O Neoplatonismo pertence ao último momento do pensamento grego, denominado período religioso. Neste período, o problema da vida é agudamente sentido, pois também o é o problema do mal. Como narra Bertrand Russel (1967, p. 322), o séc. III d.C. representa um dos períodos mais desastrosos da história romana:
[...] o exército começou a ter consciência de sua força, passando a adotar a prática de escolher imperadores a troco de recompensas monetárias e a assassina-los depois, para ter ocasião de renovar a venda do Império. Essas preocupações inabilitaram os soldados para a defesa das fronteiras e permitiram vigorosas incursões de germanos, pelo norte, e de persas, pelo leste. A guerra e a peste diminuíram a população do Império em cerca de um terço, enquanto que o aumento dos impostos e a diminuição dos recursos causaram a ruína financeira mesmo nas províncias onde não haviam penetrado forças hostis. As cidades, que haviam sido portadoras de cultura, sofreram golpes particularmente duros; os cidadãos prósperos fugiam em grande número, a fim de escapar ao coletor de impostos.
Não surpreende, pois, que para os homens mais sérios desta época, tanto cristãos quanto pagãos, o mundo das coisas práticas fosse um espetáculo de ruína e miséria, que não lhes oferecia nenhuma esperança: só o Outro Mundo parecia merecedor de fidelidade. Não encontrando, portanto, uma explicação racional plena para o problema da vida, recorre-se a “um conhecimento supra-racional, imediato, intuitivo, místico, da realidade absoluta, para a revelação, para o êxtase” (PADOVANI e CASTAGNOLA, 1967, p. 169). Assim, a filosofia, que surgiu com a superação do pensamento mítico e de uma religião positiva voltou a encontrar-se com a religião, mas desta vez envolta em influências religiosas orientais, semitas, místicas, misteriosóficas, especialmente propensas a resolver os problemas transcendentes – do mal, da dor, da