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Esse trabalho busca, de forma muito preliminar, a exploração de dois aspectos analiticamente importantes para a avaliação de políticas de controle do uso e tráfico de tóxicos. Em primeiro lugar, o problema do tóxico pertence ao domínio da moralidade. A controvérsia em torno da criminalização do tóxico é exemplo adequado do dissenso moral da cultura moderna, e definições discrepantes e contraditórias de direitos, responsabilidades e externalidades de usuários, traficantes e burocratas representam teorias morais incorporadas em instituições e práticas sociais.
Em segundo lugar, o tóxico é problema de política pública. As sociedades modernas escolheram a repressão legal como instrumento de regulação de custos externos atribuídos a opções morais de usuários e estratégias empresariais de traficantes. Tal escolha ‘’resolvendo politicamente’’, o discurso moral, envolve dois problemas importantes. O primeiro diz respeito ao escopo da lei penal e, conseqüentemente, do controle estatal de atos privados. O segundo tem a ver com elementos instrumentais e simbólicos que afetam a formação e a implementação de políticas públicas. A persistência do problema do tóxico, apesar de altíssimos investimentos governamentais no combate a ele, aprece não afetar o suporte público a políticas fracassadas de criminalização de usuários e traficantes.
Em meados dos séculos XIX e XX, membros da elite e intelectuais brasileiros consumiam fartamente éter, cocaína e morfina, e a maconha era desprezada como ‘’ópio do pobre’’. Desde 1921, o porte e a venda de drogas são criminalizados no Brasil.
A ‘’epidemia da heroína’’ nos anos 1950 nos Estados Unidos inicia o moderno ‘’problema público’’ do tóxico. Nas décadas 1965-1975 ela alcança centros urbanos nos médios e pequenos e a juventude de classe média, mobilizada pelos movimentos contraculturais que transformaram a expansão da consciência , o sexo desinibido, o rock’n roll e as drogas