Narcisismo
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Uma das idéias resultantes da hipótese do apoio é a de uma ordem natural em relação à qual a pulsão (no caso, pulsão sexual) seria um desvio. A pulsão sexual seria um desvio do instinto. Inicialmente ela se apoiaria e se confundiria com ele para, em seguida, desviar-se e tornar-se autônoma. Admitindo-se como legítima a teoria do apoio, restaria a questão de seu poder explicativo. Em que a idéia de instinto ou de uma ordem natural contribuem para o entendimento do conceito de pulsão? O que está em questão não é tanto o fato da pulsão ser ou não um desvio, mas em como pensarmos esse desvio, se desvio de uma ordem primeira (natural) que lhe imprimiria algumas de suas características, ou se desvio original, pura potência indeterminada. Como a questão será amplamente discutida no capítulo dedicado às pulsões, creio que podemos adiar sua análise. A partir desse auto-erotismo, para o qual não há um objeto externo determinado, a libido vai aos poucos constituindo seus objetos, numa expansão que é correspondente à elaboração do mundo pelo sujeito, mundo dos objetos de interesse.36 O importante é entendermos que esse mundo não é construído segundo a ordem das necessidades, não se trata de ir descobrindo pouco a pouco os caminhos que conduzem das necessidades biológicas aos objetos do mundo exterior, de acordo com uma ordem que é anterior e exterior à instauração do princípio do prazer.
O narcisismo.
Vimos que nos Três ensaios Freud caracteriza o auto-erotismo como um estado original da sexualidade infantil, an-
Cf. Lacan, J., O seminário, Livro 1, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1983,
p. 135.
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Introdução à metapsicologia freudiana
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terior ao do narcisismo, no qual a pulsão sexual encontra satisfação sem recorrer a um objeto externo. Essa forma primeira da sexualidade, que age não somente com independência de um objeto externo mas também independente de qualquer função biológica, não é objeto de