Nacionalismo na América Latina no século XIX
O que é América Latina? América Latina é um contructo teórico que pretende trazer unidade aos diversos territórios colonizados por portugueses, espanhóis e franceses entre os séculos XV e XIX; o que traria unidade a estes territórios seria a identidade existente entre a matriz do idioma destes povos. Esta simplicação é, entretanto, injustificada, afinal, há mais semelhança histórica entre, digamos, as ilhas caribenhas colonizadas por ingleses e francesas (sociedades escravistas voltadas à monocultura da cana-de-açúcar) do que entre os Vice-Reinos de Nova Granada (sociedade com forte influência indígena e voltada à extração de metais preciosos) e do Rio da Prata (relativamente auto-suficiente e criada sobretudo para coibir pretensões territóriais dos portugueses). E mais, buscar unidade histórica a partir da origem comum do idioma é incorreto: alguém diria que há unidade entre as histórias de França, Espanha e Itália? Apesar disso, o uso da expressão América Latina se tornou comum a partir do século XIX – século também caracterizado pela expansão de diversos movimentos nacionalistas, movimentos que deram origem à criação de diversas nações.
O cerne deste ensaio é a aparente contradição que há entre estes dois movimentos: um que tenta generalizar o passado e o futuro de um vasto território e o outro que tenta particulizar dada demarcação territorial, buscando justificar a criação de uma nova nação. Esta contradição está no centro da reinvenção do mundo nos século XIX – o estreitamento dos laços comerciais e a crescente globalização da economia mundial sempre esteve acompanhada pela explosão de movimentos nacionalistas – e também está no centro da criação da América Independente: a formação de Argentina, Paraguai, Peru, Colômbia, Bolívia, etc, se deu em termos comuns (a desintegração do domínio espanhol sobre os territórios americanos e a consequente luta de classes locais pela autonomia destes territórios),