Mãos nas massas: uma analogia com a pós-modernidade
Flávia Moraes
“Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento.”
Kant
O período histórico atravessado pela humanidade nos dias de hoje é denominado pós-modernidade e, ao contrário do que pensa o senso comum, trata-se de uma conjuntura que rompe e se opõe ao período antecessor (modernidade).
Os movimentos artísticos representam de forma caricata (ou não) as peculiaridades de cada momento histórico, uma vez que se tratam da expressão de indivíduos que estão imersos nesta atmosfera. A gastronomia, mesmo não sendo um movimento artístico propriamente dito, não deixa de ser uma arte. A arte da combinação de cheiros, texturas, sabores, sensações, estética... Uma verdadeira criação que escolhe meticulosamente cada detalhe e transforma vários elementos em um conjunto artístico que, para ser experienciado em sua totalidade, deve ser explorado por todos os sentidos do corpo humano.
Pois bem, pensando nisso, associei a culinária e seus processos a algumas características da pós-modernidade.
Comparo a massa de um pão à massa composta pelos indivíduos de uma sociedade que, na contemporaneidade, é designada como ‘sociedade de consumo’. Explico: na panificação há uma receita que lista os ingredientes da massa e indica seu preparo para que possa se constituir o pão. Assim também ocorre com a massa social, uma vez que é composta por membros (ingredientes) que desempenham um papel específico e percorre um caminho preconizado por um conjunto de regras éticas e morais (preparo).
Entretanto a sociedade atual é ininterruptamente bombardeada pelos mais diversos estímulos e está subjetivada de tal modo que há uma busca constante pelo que é novo, inédito, criativo e ousado. Uma massa de pão que tem vários ingredientes (novos, inéditos, criativos e ousados) adicionados a ela perde seu caráter original e passa a ser identificada através de seus novos ingredientes que, no caso, correspondem aos agentes externos, os quais são