multiculturalismo
LÍNGUAS EM CONTATO E EM CONFLITO: A TRAJETÓRIA DO
SURDO NA ESCOLA
Ivani Rodrigues Silva1
CEPRE / FCM / UNICAMP (Brasil)
1. Introdução
Em estudos anteriores (Silva-Mendes, 1993 e Silva, 1998) procuramos mostrar que o escolar surdo, filho de pais ouvintes lida com a escrita do português de um modo peculiar por estar, esse sujeito, atravessado por uma outra língua –a língua de sinais– denominada, em geral, pela família e pela escola apenas como mímica ou linguagem gestual, enquanto entra em contato com o português escrito em seu processo de alfabetização. Por essa razão, a produção escrita do aluno surdo mostra várias marcas, a saber, da língua oral que ele conhece, principalmente, via leitura labial; da própria escrita com a qual esse sujeito entra contato na escola durante seu processo de alfabetização e da língua de sinais que faz parte de seu cotidiano, principalmente, se ele vive em contato com outros surdos.
Neste trabalho –de cunho etnográfico– meu interesse volta-se para as práticas de letramento realizadas com as crianças surdas em casa e na escola, levando-se em conta a noção de “diglossia conflitiva” proposta por Hamel (1989) que observa que há uma relação de não equilíbrio entre línguas nacionais e línguas minoritárias nos contextos bilíngües, com o objetivo de compreender melhor a relação da criança surda com a língua escrita/língua de sinais e com entorno escolar.
2. Letramento e surdez
Deve ser enfatizado, primeiramente, que há muita controvérsia em torno do termo letramento, por ser este um conceito relativamente novo que surge, exatamente, para fazer um contraponto entre a aprendizagem escolar da escrita e uma nova maneira de ver a escrita em sociedade. Ser letrado significa mais do que se tornar alfabetizado
(saber ler e escrever), trata-se de saber usar a escrita para as próprias necessidades. É,
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Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação “Prof. Dr.