Multiculturalismo
A questão multicultural hoje preocupa muitas sociedades. O debate é intenso nos Estados Unidos e também na Europa. No entanto, na América Latina e, particularmente no Brasil, a questão multicultural apresenta uma configuração própria, uma especificidade. Nosso continente é um continente construído com uma base multicultural muito forte, onde as relações interétnicas têm sido uma constante através de toda sua história, uma história dolorosa e trágica principalmente no que diz respeito aos grupos indígenas e afro-descendentes.
A nossa formação histórica está marcada pela eliminação física do “outro” ou por sua escravização, que também é uma forma violenta de negação de sua alteridade. Os processos de negação do “outro” também se dão no plano das representações e no imaginário social. Neste sentido, o debate multicultural na América Latina nos coloca diante desses sujeitos históricos que foram massacrados mas que souberam resistir e continuam hoje afirmando suas identidades fortemente na nossa sociedade, mas numa situação de relações de poder assimétricas, de subordinação e acentuada exclusão.
A toma de consciência desta realidade, em geral é motivada por fatos concretos que explicitam diferentes interesses, discriminações e preconceitos presentes no tecido social. Uma situação até então considerada “normal” e “natural”, se revela como permeada por tensões e conflitos, por relações de poder, historicamente construídas marcadas por desigualdades, estereótipos e preconceitos .Os “outros”, os diferentes se revelam em toda a sua concretude. Para muitas pessoas e grupos sociais esta descoberta é altamente ameaçadora. Surgem então comportamentos e dinâmicas sociais que