Movimento negro
Construindo atores sociopolíticos
Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais
Trabalho apresentado na XXI Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1998.
Introdução As reflexões que pretendemos apresentar neste artigo fazem parte de um estudo mais abrangente, no qual investigamos, entre outros aspectos, o potencial explicativo de algumas teorias da ação nas pesquisas sobre as condições sócio-históricas que favorecem a emergência de movimentos étnicos na cena contemporânea (Gonçalves, 1994). Inicialmente, discutiremos como as teorias sociais têm formulado os problemas suscitados pela atual vaga de movimentos culturais, mostrando o quanto elas têm contribuído na produção de uma visão diversificada destes, ora situando-os em um mundo pré-moderno, ora descrevendo-os como fenômenos pós-modernos. Paralelamente, indicaremos como algumas dessas teorias nos ajudaram a interpretar as ações dos movimentos negros no Brasil, ao longo do século XX, e como, por meio delas, pudemos focalizar aspectos da modernização do país, nos quais esses movimentos interferiram conscientemente. Em seguida, comentaremos pontos de vista de eminentes cientistas sociais que de-
dicaram parte de suas obras ao estudo da luta contra o racismo no Brasil e, finalmente, apresentaremos, de forma sucinta, alguns resultados de nosso estudo. Teorias da ação e os movimentos culturais A proliferação de movimentos étnicos, religiosos, nacionalistas e outros, nos quais os sujeitos se constituem em referência a um dado cultural específico (gênero, preferência sexual, idade etc.) tem levado vários cientistas sociais, sobretudo a partir da década de 1970, a nela buscar os sinais dos novos tempos.1
Apenas para ficar em alguns textos clássicos sobre o assunto, cf. Lyotard, 1984. Nesta obra, o autor aponta, como sinais do novo tempo, o fim das metanarrativas em favor dos discursos particulares e específicos.