Motricidade humana
(retirado do blog De Rerum Natura)
Meu prefácio ao livro de Manuel Sérgio "Para um Novo Paradigma do Saber... e do Ser" (Ariadne, 2005): Poder-se-á estranhar que seja um físico a prefaciar um livro de um professor de Filosofia português que se tem especializado (e notabilizado!) na epistemologia da
motricidade humana, um novo nome para uma nova ciência cujo escopo é vasto: o desporto, a dança, a ergonomia, a reabilitação, enfim tudo o que tenha a ver com o movimento do corpo ou “físico” humano. De facto, o físico que assina por baixo confessa que pouco sabia sobre os assuntos do “físico”. Mas confessa também – e daí o dever e o prazer do presente refácio – que muito ficou a saber sobre a filosofia do “físico” depois de ter lido este pequeno-grande (pequeno no tamanho, grande na diversidade e profundidade dos temas) livro. É curioso o duplo sentido da palavra “físico”. Qualquer bom dicionário informa: físico (do grego “ physikós”, da natureza) significa, por um lado, “s. m., aquele que estuda Física ou é versado nela; adj. relativo à Física, relativo às condições e leis da natureza, corpóreo, material, natural” e, por outro, “s. m. médico (termo antigo); adj. conjunto das qualidades externas do homem, aspecto, configuração, conjunto das funções fisiológicas”. Há obviamente algo de comum entre os dois sentidos, o universal e o humano: o “físico” denota nos dois casos o que é material, palpável. E tudo o que é material move-se, seja um corpo celeste seja um corpo terrestre! A Física começou precisamente com Galileu com o estudo do movimento dos corpos inanimados, como um grave perto da Terra ou a própria Terra (“eppur si muove”), mas o mesmo Galileu estudou Medicina na Universidade de Pisa e interessou-se pela resistência dos corpos vivos (o livro “Diálogo sobre Duas Ciências Novas” começa pela análise do que acontece a corpos animais que caem, o que, convenhamos, é bem mais grave do que a queda de corpos inanimados). Foi