morte, musa da filosofia
nº 09 | P. 91 - 107 | JAN-JUN 2007
A morte, musa da filosofia
Maria Lucia Cacciola*
RESUMO:
FIM ÚLTIMO DA VIDA DO INDIVÍDUO E NÃO DA ESPÉCIE, A MORTE NÃO SIGNIFICA PARA SCHOPENHAUER O FIM DA
VONTADE ENQUANTO ESSÊNCIA, ISTO É, DO QUERER-VIVER INDESTRUTÍVEL. A VISÃO DA MORTE COMO “MUSA DA
FILOSOFIA” E DA FILOSOFIA COMO “PREPARAÇÃO PARA A MORTE” LIGA-SE À IMPORTÂNCIA DO ORGANISMO E DE SEU
CICLO VITAL NO PENSAMENTO DO FILÓSOFO. ESSE SERÁ O PONTO DE PARTIDA PARA MOSTRAR A INTERDEPENDÊNCIA DE
SUAS REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA E, ACIMA DE TUDO, DA SUA CONDENAÇÃO DO SUICÍDIO, EM RELAÇÃO À SUA METAFÍSICA
IMANENTE DA VONTADE COMO QUERER-VIVER, INCONTROLÁVEL PELO ARBÍTRIO INDIVIDUAL. DESSE MODO, UMA TAL
“FILOSOFIA DA NATUREZA” MOSTRA O SEU PRESSUPOSTO: A IMPOSSIBILIDADE DE CONTROLE, POR QUALQUER INSTÂNCIA
EXTERIOR, DESSE IMPULSO PRIMORDIAL. EM CONTRAPARTIDA, PÕE-SE A DIFERENÇA ABISSAL ENTRE A MORTE DO
INDIVÍDUO E A NEGAÇÃO DA ATIVIDADE DA VONTADE.
ABSTRACT:
FINAL END OF LIFE OF THE INDIVIDUAL, NOT OF SPECIES, DEATH DOES NOT MEAN FOR SCHOPENHAUER THE END OF THE
WILL AS ESSENCE, THAT IS, OF THE INDESTRUCTIBLE WILL-TO-LIVE. THE CONCEPTION OF DEATH AS “MUSE OF PHILOSOPHY”,
AND OF PHILOSOPHY AS “PREPARATION TO DEATH”, IS RELATED TO THE IMPORTANCE OF THE ORGANISM AND ITS VITAL
CYCLE IN SCHOPENHAUER’S THOUGHT. THIS WILL BE OUR STARTING POINT TO SHOW THE INTERDEPENDENCE BETWEEN
HIS REFLECTIONS ON ETHICS, ABOVE ALL HIS REPROOF OF SUICIDE, AND HIS IMMANENT METAPHYSICS OF THE WILL AS
WILL-TO-LIVE, UNCONTROLLABLE BY INDIVIDUAL CHOICE. SUCH A “PHILOSOPHY OF NATURE” SHOWS THEREBY ITS
PRESUPPOSITION: THE IMPOSSIBILITY OF ANY EXTERNAL INSTANCE TO CONTROL THIS PRIMEVAL IMPULSE. ON THE OTHER
HAND, THERE IS A HUGE DIFFERENCE BETWEEN INDIVIDUAL DEATH AND THE DENIAL OF THE ACTIVITY OF THE WILL.
Filosofia da negação ou releitura do limites impostos ao humano quanto à sua possibilidade de conhecer desde Kant: eis as duas alternativas que se