Monarquia contra republica
A ideologia da terra e o paradigma do milênio na "guerra santa" do Contestado∗
Marco Antônio da Silva Mello• Arno Vogel♦
"Salga a la anchurosa plaza Del gran teatro del mundo Este valor sin segundo..." Calderón
===================================================================== Os acontecimentos do grande surto milenarista do Contestado tiveram lugar menos de vinte anos após a destruição da "Jerusalém de taipa" de Antônio Conselheiro. Juntamente com os episódios sangrentos que marcaram a luta em tomo do arraial de Canudos, esta segunda "guerra santa" sertaneja da República ocupou a imaginação e instigou o estro sociológico de muitos pesquisadores brasileiros. Embora não tenha produzido um clássico do porte de Os sertões, não faltam ao movimento do Contestado extensas etnografias e interpretações mais ou menos ambiciosas e sofisticadas. Basta lembrar, a propósito, trabalhos como os de Maria Isaura Pereira de Queiroz, Maurício Vinhas de Queiroz, Duglas Teixeira Monteiro e Oswaldo Cabral. A partir deles, gostaríamos de contribuir para a discussão de um tema que a todos tem ocupado e intrigado quando se trata de compreender esse movimento. Pensamos, especificamente, nas questões relacionadas com o problema da terra e com o significado desta como motivação dos conflitos sociais que conturbaram os sertões de Santa Catarina e Paraná entre 1912 e 1916. As grandes linhas que definem o confronto das forças sociais cuja exacerbação foram exaustivamente contempladas nas análises sobre o Contestado. Não será, pois, necessário voltar a elas.
Muitas das idéias desenvolvidas neste trabalho começaram a tomar corpo nos seminários dirigidos pelo professor Renato Queiroz, no Departamento de Antropologia da FFLCH-USP. A ele e aos colegas de curso, ficam registrados os agradecimentos pela estimulante discussão. Nosso especial agradecimento ao professor Roberto Da Matta por suas críticas e generosas sugestões para desdobramentos do tema. Ao