Mon logo interior Hamlet
[Tradução, David Herman]
Um saguão do castelo. Entram Hamlet e três atores.
HAMLET
Falem, por favor, essas falas como eu as pronunciei, com língua ágil. Se encherem com elas a boca, como costumam fazer muitos dos nossos atores, preferiria ouvir os meus versos gritados pelo pregoeiro público. Nem gesticulem assim, serrotando o ar com a mão mas sejam moderados: pois na própria torrente, tempestade... direi melhor, no turbilhão das suas paixões, devem conquistar e adquirir uma temperança que lhes dê suavidade. Ah! Dói-me até o fundo da alma ver um canastrão dilacerar uma paixão até a por em trapos, em verdadeiros frangalhos, e rebentar o ouvido dos espectadores da platéia, (que na sua maior parte são incapazes de apreciar coisa além de pantomimas e barulheiras confusas). Mandaria açoitar o indivíduo que se pusesse a exagerar no papel de Termagante, isso é super-herodizar Herodes1; peço-lhes que evitem tal excesso.
Mas também, não sejam por demais insípidos, que a discrição lhes sirva de guia. Apropriem a ação à palavra, a palavra à ação, conforme o conselho especial de não ultrapassarem a modéstia de natureza; pois o exagero foge ao propósito da representação, cujo fim, tanto a princípio como agora, era e é, apresentar um espelho à natureza, mostrar à virtude seus próprios traços, à infâmia a sua imagem, à idade e corpo da época a sua verdadeira forma e persuasão. Ora, o exagero ou o descuido, embora provoquem o riso inevitável aos ineptos, só afligem os judiciosos; que a opinião de um só destes deva pesar mais em sua estima do que uma audiência inteira dos demais. Ora, já vi serem calorosamente elogiados atores que, (para falar com certa irreverência), nem na voz, nem no porte mostravam nada de cristãos... ou de pagãos, ou de homens sequer, e que de tal jeito rugiam e se pavoneavam que (pus-me a pensar) eles haviam sido feitos, e mal, por meros aprendizes da natureza: tão abominavelmente eles imitavam a