Minhas Histórias
Como dissemos acima, a reflexão filosófica apresenta, como objeto próprio, o mundo a conhecer e a ação a efetuar. Isto supõe um certo recuo, um relativo desligamento no que diz respeito à objetividade das coisas, como elas existem, como funcionam, como podemos modificá-las. Disso se ocupa a ciência. A atitude filosófica emerge de nossa admiração diante da realidade que suscita em nós o desejo de conhecer, mais e melhor, porque as coisas existem.
Esta atitude revela a capacidade do espírito humano de poder alçar-se acima das determinações concretas da realidade -- os seres -- e perguntar pelo ser simplesmente. A partir do ser (conceito abrangente) podemos conhecer mais profundamente os seres, as coisas, porque a realidade não se dá a conhecer totalmente nem pelo senso comum, nem pela ciência.
A reflexão filosófica é radical na medida em que procura alargar as fronteiras do saber. Ela conscientiza o fato de que, no conhecido, há sempre um desconhecido, que no dito, persiste um não-dito e que no sabido, existe um ignorado. Nosso conhecimento é sempre representativo, modelar e aproximativo4 . Por isso, a consciência filosófica é permanentemente indagadora. Ela sabe não possuir a verdade, mas a disposição permanente de procurá-la. O trabalho filosófico é essencialmente teórico. Mas isso não significa que a filosofia esteja à margem do mundo e da ação dos homens como se fosse um saber puramente abstrato que possa ser dispensável, sem nenhum prejuízo para o indivíduo e a sociedade. A filosofia autêntica, muito longe de ignorar a realidade, reflete sobre tudo o que acontece tanto no mundo físico quanto no mundo da cultura. O cometimento filosófico visa transformar um acontecimento em experiência para compreendê-lo, extrair sua lição, a fim de chegar a uma visão sistemática e unificada do universo. 4 Dizemos que o conhecimento é representativo, modelar e aproximativo porque ele