mia couto

336 palavras 2 páginas
Mia Couto, ficcionista moçambicano, empregando uma linguagem que se tornou típica dos seus narradores e personagens, leva-nos, através das suas Estórias Abensonhadas, a percorrer os caminhos cinzentos, mas repletos de sonhos, de um território sacudindo os resquícios de uma guerra civil: Moçambique. Ao dizer que essa linguagem se tornou típica, estou a considerar o facto de ela ter emigrado – na mão do ficcionista moçambicano (ou no seu bloco de notas?) – de uma real situação de uso empírico para a escrita ficcional, tornando-se, como tal, numa linguagem ficcionalizada. Na verdade, trata-se de uma linguagem que, mais do que uma invenção ou criação linguístico-literária de Couto, corresponde às formas quotidianas de comunicação das camadas populares de moçambicanos que, tendo a língua portuguesa como as sua língua nativa, se sentem muitas vezes na contingência de se expressar, não sem dificuldades... Mas expressando-se, numa língua que, não sendo a sua, é a língua oficial da sua terra, além de ser uma língua de prestígio. Ou seja, formas linguísticas que encontramos na escrita ficcional de Mia Couto, estão associadas a essa outra maneira de falar a língua portuguesa em Moçambique, um falar saído dessas camadas onde um escritor atento como Mia Couto vai buscar, não só a matéria-prima para a linguagem das suas estórias e os exemplares dos seus humildes personagens, mas também a inspiração para retrabalhar a língua como ele a retrabalha.
Escritas após um conflito armado que desvastou Moçambique por uns longos dezesseis anos – e que Mia Couto presenciou e viveu -, estas estórias não poderiam deixar de reflectir, de certo modo, a atenção que o escriba do Índico prestou a fenómenos como o dos deslocados de guerra, da desgraça que se abateu sobre inúmeras famílias, dos desmandos protagonizados pelas chamadas forças da lei, da injustiça, enfim... entre outros, todos eles gerados pela triste situação de
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