Meu tio

CineOFICINA
Andressa Ferreira

Resenha crítica sobre o filme Meu tio de Jacques Tati

Segundo a senhora Arpel, no filme “Meu tio” de Jacques Tati, “em sua casa tudo se comunica”. Ela acreditava que a modernidade tecnológica lá instalada garantia facilidades e funcionalidade ao seu dia-a-dia. Porém esta, conduzindo seus moradores a uma “automatização” das tarefas, na prática, não ofereceu efetivamente aquilo que propunha inicialmente. Por parte do “tio”, por exemplo, não houve uma adaptação aos moldes vividos pela família em questão. Este cenário é construído a fim de criticar a modernidade que então havia chegado a Europa na década de 50. Sendo o tio
Hulot, contraponto entre dois ambientes diferentes, a vida era dividida pela casa moderna e suas formalidades em comparação a periferia em que ele morava. No primeiro, o espaço ditava as ações dos usuários e no segundo, os moradores ainda tinham o controle sobre o lugar.
A tecnologia que chegava acoplada ao modernismo oferecia funcionalidade, mas deixava as pessoas dependentes dela. O barulho feito pela cozinha da senhora Arpel, por exemplo, independente do incômodo que causava, nem era percebido, já fazia parte do seu cotidiano assim como outras considerações que também eram passadas despercebidas. Os novos mobiliários lá dispostos prescreviam as ações a serem realizadas, não havia outras lógicas que ativassem novas experiências no espaço. Portanto, era aparentemente desnecessário pensar e analisar sobre o que se estava fazendo.
Com isso, as pessoas se tornavam cada vez mais mecanizadas.
Eram condicionadas a reproduzir diariamente aquilo que achavam ser funcionalidade e assim, perdiam a autonomia e o poder de usufruírem como quisessem de um espaço. A padronização vinda do modernismo limitou as experiências possíveis.