mestre
1. Introdução
Entre os inúmeros relatos de nossos índios, encontramos o da origem do dia e da noite: ao transportarem um coco, certos índios ouviram de dentro dele ruídos estranhos e não resistiram à tentação de abri-lo, apesar de recomendações contrárias. De dentro do coco escapuliu então a escuridão da noite. Por piedade divina, a claridade lhes foi devolvida pela Aurora, mas com a determinação de que nunca mais haveria só claridade, como antes, mas alternância do dia e da noite. Semelhantemente, os gregos homéricos relatam a lenda de Pandora, que, enviada aos homens, abre por curiosidade uma caixa de onde saem todos os males. Pandora consegue fechar a caixa a tempo de reter a esperança, única forma de o homem não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida.
Observando os dois relatos, percebemos algumas semelhanças entre eles: ambos falam da curiosidade, da desobediência e do advento de um castigo (a escuridão ou os males).
Numa leitura apressada, buscando o sentido do mito, podemos pensar que se trata apenas de uma maneira fantasiosa de explicar a realidade que ainda não foi justificada pela razão; no caso, o dia e a noite e a origem dos males. Essa posição a respeito do mito não esconde o preconceito comum de ver o mito como uma lenda, uma fábula, uma forma menor de explicação do mundo, prestes a ser “superada” por formas mais racionais.
No entanto, a noção de mito é mais complexa e mais rica do que essa posição redutora. Assim, podemos nos referir a um artista famoso como um mito: James Dean como o mito da juventude transviada ou, então, Marilyn Monroe como mito sexual.
Também, quando alguém diz que o socialismo é um mito, pode estar querendo dizer que se trata de algo inatingível, de uma mentira, de uma ilusão que não leva a lugar nenhum. Mas, opondo-se a esse sentido negativo de mito, outros poderão ver positivamente o mito do socialismo como uma utopia, o lugar do “ainda-não”, cuja força mobiliza as pessoas a construírem o