MESTRE TAMODA

RESUMO

O presente trabalho faz uma leitura do conto “‘Mestre’ Tamoda” de Uanhenga Xitu, no qual as ações ocorrem em uma pequena aldeia africana. Por meio destas ações, buscamos mostrar algumas marcas da enunciação textual, a qual revela a interferência de aspectos socioculturais do espaço a que se refere. Apontamos alguns aspectos linguísticos, a fim de mostrar que o texto assinala a sobreposição de uma cultura dominante em relação a uma cultura dominada. Para tanto, o referencial teórico oferecido por Mikhail Bakhtin se presta adequadamente como nossa terminologia básica.

PALAVRAS-CHAVE: literatura africana, cultura, colonização.

INTRODUÇÃO
Publicado em 1974, o conto narra a história de Tamoda, um rapaz de Catete, pequeno vilarejo africano, que teria ido trabalhar em Luanda. O texto é de Uanhenga Xitu (1924), nome quimbundo pelo qual é conhecido Agostinho André Mendes de Carvalho, angolano, nascido em Calomboloca. Deste autor, nosso trabalho visa a uma leitura do conto “‘Mestre’ Tamoda”, no qual a ação ocorre em uma pequena aldeia africana. O texto, ao trabalhar com um material de origem regional, registra a postura do homem colonizado em relação a sua pátria e o processo de aculturação em que incorpora elementos da língua do dominador. Este conto permite que se verifique, por meio da enunciação textual, a interferência de aspetos socioculturais que remetem a uma sociedade em situação de colônia. Buscamos mostrar, com essa análise, que o texto assinala a sobreposição de uma cultura dominante a uma dominada. Para tanto, faz-se necessário abordar, primeiramente, algumas questões teóricas que envolvem o conceito de enunciação, para, assim, comprovar como o contexto de produção de determinadas obras pode, ainda que de forma translúcida, revelar-se através do discurso por elas construído.

Bakhtin (2004) explica como se processa a expressão do homem pela linguagem e em que medida outras vozes podem estar implícitas nesta expressão. O estudioso faz