Mestranda
Segundo o autor, “somos ainda hoje um desterrados em nossa terra”. Isso se deve à tentativa de implantação da cultura europeia no território brasileiro.
Os espanhóis e portugueses constituem uma zona fronteiriça e, por isso, apresentam-se menos carregados do europeísmo, mantendo-o, no entanto, como um patrimônio necessário.
Uma das notas essenciais do povo ibérico, que lhe diferencia dos demais europeus, é o desenvolvimento extremo da cultura da personalidade, a qual se refere à importância que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço.
É dessa característica que resulta “a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre os povos. Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida.” (p. 32)
O povo ibérico também nunca deu grande importância ao princípio da hierarquia, mais precisamente, aos privilégios aristocráticos, mais valendo o mérito pessoal do que as características pessoais herdadas. Por essa razão rejeitaram as teorias negadoras do livre-arbítrio, que não conferem pleno reconhecimento ao mérito e responsabilidade social.
“Foi essa mentalidade, justamente, que se tornou o maior óbice, entre eles, ao espírito de organização espontânea, tão característica de povos protestantes, e sobretudo de calvinistas. Porque, na verdade, as doutrinas que apregoam o livre-arbitrio e a responsabilidade pessoal são tudo, menos favorecedoras da associação entre os homens. Nas nações ibéricas, à falta dessa racionalização da vida, que tão cedo experimentaram algumas terras protestantes, o princípio unificador foi sempre representado pelos governos. Nelas predominou, incessantemente, o tipo de organização política artificialmente mantida por uma força exterior, que, nos tempos modernos, encontrou uma das suas formas