Merde d’artista de Piero Manzoni

Em Maio de 1961 Piero Manzoni produziu, enlatou e numerou rigorosamente 90 pequenas latas e etiquetou-as com o texto Merde d’artista (Merda de Artista). Cada lata continha 30 gramas de fezes do artista conservadas ao natural. Foram seladas como mandam as regras da indústria alimentar e numeradas e assinadas como mandam as regras do mercado da arte. Para além de assinadas e numerados as latas têm três faces onde se pode ler o texto: Merde d’artista. A sua autenticidade é garantida pela inscrição “Merde d’artista, numerata, firmata e conservata al naturale”. O rótulo foi impresso em italiano, inglês, francês e alemão. Manzoni cria um espelho de auto-referencialidade entre o corpo e o artista, cria um equilíbrio para a perda de espaço invadindo tradicionalmente atribuído pelo processo de comunicação para a sua obra. Como que se oferece-se ao público algo como a sua inspiração mais profunda do artista da tua forma mais natural.

Estas latas foram apresentadas pela primeira vez na galeria Pescetto de Albisola Marina a 12 de Agosto do mesmo ano. Nos anos seguintes ele vendeu-as ao preço equivalente do peso do ouro (literalmente) em várias exposições por todo o mundo (expôs no Tate, no Moma, etc). A associação entre analidade e obras de arte (e entre o ouro e fezes) é um tema recorrente na literatura psicoanalistica Manzoni pode ter recebido lendo Jung. Estas latas tornaram-se na sua obra mais famosa e ganhou vários prémios. Foram um manifesto anti-pop-art que foi ao limite do surrealismo e da arte dadá e tornaram-se num ícone da arte conceptual. O seu conteúdo durante muitos anos fui incógnito, alguns amigos de Manzoni entre eles Agostino Bonalumi, afirmavam que as latas não continham fezes mas sim gesso. E uma vez que as latas são em metal não havia forma de detectar o seu conteúdo. Foi só em 1989, que Bernad Bazile exibiu uma lata que esteve em temperaturas altas e ficou danificada. Uma vez que até a data nenhuma tinha sido aberta para não perder o seu