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Vinícius Carvalho Pereira1
RESUMO: Este artigo apresenta um estudo de como a metáfora das fezes, geralmente associada ao baixo na arte, pode se insurgir contra a baixa arte, freqüente em tempos de indústria cultural. Para isso, analisa-se o conto “Natureza-podre ou Franz Potocki e o mundo”, de Rubem Fonseca, atentando para as estratégias textuais no plano da enunciação e do enunciado empregadas pelo autor no que tange à associação entre as atividades artística e intestinal.
Palavras-chave: indústria cultural, fezes, arte.
Introdução
A vigente similitude de temas e clichês na arte não denota mais do que uma tentativa de apagar distinções sociais ou possíveis conflitos entre dominadores e dominados, de modo a tornar-se mais eficaz a produção tecnicista. Nesse contexto, os grandes capitalistas oferecem produtos com a promessa de divertir o consumidor, o qual requer um passatempo que lhe repouse as forças, necessárias na manhã seguinte para trabalhar e trazer lucros ao patrão.
Tal sucessão voraz de estímulos visuais e/ou auditivos assemelha a arte da indústria cultural à linha de montagem, instaurando seu maior paradoxo, no qual repousa uma de suas mais poderosas molas motrizes: diversão que se assemelha à faina, a obra imposta às massas perverte o conceito aristotélico de mimese, de modo que imita a esteira fabril. Todavia, não por prazer ou inclinação inerente ao homem, como cria o discípulo de Platão, e sim com vistas ao recrudescimento dos lucros.
Diante desse cenário, uma possível reação lingüística de revolta é praguejar contra o statu quo, freqüentemente desbocando uma metáfora ligada aos excrementos sólidos humanos, traçando uma equação entre a indústria cultural e as fezes. Este trabalho, no entanto, visa a investigar o emprego da imagem do excrementício no conto “Naturezapodre ou Franz Potocki e o mundo”, de Rubem Fonseca, por um viés diametralmente oposto: o expurgo intestinal