Os mercados muito além da oferta e da procura Colocar a ética e o respeito aos ecossistemas no centro das decisões econômicas exige a ruptura com a maneira como os mercados são encarados pela esmagadora maioria da ciência econômica e, portanto, com essa rígida separação entre economia e sociedade, como se a primeira fosse a expressão exclusiva dos interesses privados e só a segunda exprimisse a esfera pública. Essa dicotomia se apoia teoricamente em uma visão equivocada a respeito do significado dos mercados na vida social contemporânea. Em um texto de 1977, em homenagem a Karl Polanyi – e que de certa forma norteou o programa de pesquisa de boa parte da economia institucional contemporânea --, Douglass North não hesitava em afirmar: “É curioso que a literatura de economia e história econômica contenha tão pouca discussão sobre a instituição central em que se fundamenta a economia neoclássica – o mercado”. Vai no mesmo sentido a observação do também prêmio Nobel de Economia Ronald Coase, em um texto de 1988, de que, “embora os economistas reivindiquem estudar o mercado, na teoria econômica moderna o próprio mercado tem um papel ainda mais à sombra que a firma”. Os economistas contemporâneos interessam-se apenas pela “determinação dos preços de mercado”, mas a “discussão sobre a praça de mercado [market place] desapareceu inteiramente”. É o mercado como fato histórico localizado geograficamente e composto por entidades vivas e encarnadas – não apenas como mecanismo geral de coordenação – que tende a ser ofuscado em permanência. Na esmagadora maioria das vezes, os economistas não estudam os mercados: eles supõem mercados, o que é muito