Mentir Verdadeiro

1445 palavras 6 páginas
O mentir verdadeiro
Raquel Ribeiro Moreira1
“a mentira política se instalou em nossos povos quase constitucionalmente e o dano moral tem sido incalculável, alcançando zonas muito profundas do nosso ser. Movemo-nos na mentira com naturalidade.”
Octávio Paz

O texto O mentir verdadeiro, de Jean-Jacques Courtine, é uma leitura introdutória do livro A Arte da Mentira Política2, atribuído à Jonathan Swift. No entanto, essa leitura vem marcada pela concepção política e filosófica de um dos grandes pensadores marxista da atualidade, Jean-Jacques Courtine, o que lhe confere uma densidade e complexidade que se consubstanciam à leitura do texto de Swift. Segundo Baronas (2006), na apresentação do livro, a leitura que Courtine faz do texto originário evidencia que a mentira política não é um fenômeno datado, com cor ideológica e nem com nacionalidade, mas atemporal, não-ideológico e universal. Isso porque ele enxerga, indo além do texto de Swift, que a mentira política tem uma trajetória tão antiga quanto intrincada nas relações de constituição social, o que lhe confere uma função verdadeiramente humana/política.
A Arte da Mentira Política não se trata de um livro, mas da apresentação de um tratado em dois volumes a ser lançado conforme o número de assinaturas, entretanto esses dois volumes nunca apareceram. Segundo Courtine, “uma brochura atribuída a Swift, oferecendo em assinatura um livro inexistente de um autor anônimo: uma arte da mentira política não poderia nascer sob melhores auspícios.”(2006, p.16). Esse panfleto se caracteriza como uma sátira à tradição de governar, em que o autor alegra-se em organizar toda uma sistemática das mentiras políticas, um sistema rigoroso “digno de figurar na Enciclopédia” e de se constituir em elementos indispensáveis na “educação de um belo príncipe.”
Nessa esteira, Courtine recapitula a história da política ocidental e mostra que o uso da mentira em política já é referido por Platão, em A República, no qual este compara

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