Memória de um monumento impossível.

Memória de um monumento impossível.
Rafael Alves Pinto Junior

Antes, uma justificativa necessária. Falarei de um monumento que não se realizou. Se falar de uma obra de arte existente já envolve certo grau de dificuldade, falar de uma que ficou restrita à concepção certamente é um desafio maior. Estarei tratando de uma ausência, portanto. Um elemento que devia ter composto um edifício muito famoso no Brasil: o Monumento ao Homem Brasileiro no Palácio Capanema no Rio de Janeiro.
Dentro deste episódio, a proposta para a realização do Monumento foi emblemática por representar os dilemas e as preocupações de afirmação de uma visualidade comum à arte e a arquitetura modernista do período, bem como a construção de uma identidade nacional veiculada através do estabelecimento de uma obra de arte pública que se pretendia instrumento de retórica e propaganda.
Neste recorte lembrarei fatos conhecido por todos e também resultados de pesquisas relevantes por estudiosos do célebre edifício. O entrelaçamento entre arte e política que está por trás das pretensões do monumento permite ver que ainda há algo a ser dito sobre a realização que o edifício representou. O próprio edifício já foi concebido como um monumento e protótipo como já foi observado com propriedade tanto por Comas (1987, 2000) quanto por Segre (2013). Sua própria existência já era um lembrete e advertência: ponto de referência à ação e à reflexão1.
Se por um lado as pretensões de se conseguir com que o edifício do Ministério – atual Palácio Capanema – se transformasse em um monumento lograram êxito, por outro lado o Monumento ao Homem Brasileiro não teve a mesma sorte. Modernidade e tradição, continuidade e ruptura se entrelaçaram, como veremos na concepção da obra.
1 – As pretensões do espaço arquitetônico como síntese das artes.
A inserção das obras de arte como elementos compositivos da decoração dos espaços internos e externos do Palácio Capanema parece ter sido produto da ação de diversos membros