Memorial
Certa vez minha mãe comentou que meu pai era imaturo e bobo e ela estava insegura quanto ao meu nascimento. Ainda assim, ela se sentia feliz. Considerando que minha mãe raramente fala sobre este tipo de assunto, pude concluir que, se fato ela falava a verdade, já que não a pressionei para contribuir com este trabalho. Fui uma criança feliz. Saudável, sabes? Pude brincar, sujar as roupas, correr pela rua, tive animais de estimação. Mas, ainda que eu me sentisse alegre, pensava estar incompleta, de certa forma. Insisti que precisava de uma irmãzinha.
E por sorte, como eu pedira, 4 anos depois recebemos uma menininha linda, gordinha e de cabelinhos encaracolados.
Ainda brigamos muito, mas tenho certeza de que nosso amor é amor que qualquer desentendimento.
Aí crescemos um bocado e nos puseram na escolinha. Ou, como penso agora, naquele depósito de crianças. Mas ao menos lá eu me divertia e tinha amigos.
Com 5 anos ou talvez um pouco antes disso, eu já sabia ler e escrever, interpretar e fazer alguns cálculos. Não acho grande coisa, já que fui pressionada por meu pai. Sendo assim, acho perfeitamente compreensível que eu tenha absorvido algo que ele tentava ensinar. Não que eu o culpe, mas, sinceramente, não acho que eu tivesse maturidade para saber aquilo naquela época.
Sempre gostei de estar em meio a papéis e pessoas. Não necessariamente ambos no mesmo ambiente, mas enfim. Queria logo estar em uma escola onde eu pudesse ler tudo. Desenhar tudo. Onde permitissem o meu acesso a histórias em quadrinhos, fábulas, poesia, contos e também música, muita música. Lembro de imaginar que no Ensino Fundamental ensinassem o que eu julgava fundamental.
Decepção total. Quatro horas de desconforto e avaliações. Nada de cantar. Ninguém podia se sujar. Eu