Memorial do Convento
Uma epopeia é, geralmente, um poema em que se narram ações heróicas e grandiosas, façanhas de heróis ou factos memoráveis de um povo. O capítulo XIX é dedicado à saga heróica do transporte de uma pedra enorme, destinada à varanda situada sobre o pórtico da igreja do convento, de Pêro Pinheiro para Mafra, num percurso de cerca de quinze quilómetros. Para a transportar, foi necessário construir um enorme carro que foi puxado por duzentas juntas de bois. A pedra tinha sete metros de comprimento por três metros de largura e sessenta e quatro centímetros de espessura. Pesava mais de trinta toneladas e levou oito dias a ser transportada. Neste capítulo, o narrador destaca o povo e nele elege os seus heróis, os construtores da História, que ficavam sempre no anonimato, por isso é uma epopeia cujo herói é o povo que, humilhado, sacrificado e miserável, ganha uma dimensão trágica e eleva-se acima das outras classes, superando-as. Aqui, destaca-se a força, o suor, o sacrifício e até a morte dos homens que, para sobreviverem, trabalham sem descanso para que o rei possa cumprir a sua promessa. O narrador tira os homens do anonimato e dá identidade e ação a alguns deles, como Francisco Marques e Manuel Milho. Aos outros, presta-lhes uma simples homenagem para os tornar imortais: indica nomes de todas as letras do alfabeto, para abranger todos os “pequenos”, incluindo-os numa História de Portugal que os esqueceu. Para mostrar as dificuldades do transporte da pedra, o narrador descreve alguns pormenores, pois esta empreitada, além de exigir força, exigia também inteligência e coordenação e um simples descuido seria fatal, como o foi para Francisco Marques que se distraiu um instante e acabou esmagado por uma roda. Este episódio, além de imortalizar os “pequenos” que constroem os sonhos dos grandes, confronta o leitor com o sofrimento e opressão a que o povo sempre esteve sujeito. “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”… Mas, para que isso aconteça, há muita