memoria
Roberto Massei*
A modernidade transformou o homem em um ser insensível e sem memória; desproveu-o, inclusive, da capacidade de ter uma preocupação com ela. Na Era da Informação o receptor da comunicação de massa é, na verdade, um ser desmemoriado. Recebe um excesso de informações que saturam sua forma de conhecer o mundo; incham-no, pois não há lenta mastigação e assimilação daquilo que é transmitido pela mídia. O mundo contemporâneo, pós-moderno, é superficial. Nele, a imagem tem um papel preponderante na vida das pessoas. Há, nas palavras do filósofo Nelson Brissac Peixoto, uma excessiva banalização dessas imagens. "Vivemos no universo da sobreexposição e da obscuridade, saturado de clichês, onde a banalização e a descartabilidade das coisas e imagens foi levada ao extremo", diz ele. Paradoxalmente, ocorre uma hiperrealização do real. Contudo, existem apenas simulacros, como afirma Jean Baudrillard. A concretude das coisas e do mundo desaparece cedendo lugar à artificialidade.
Essa modernização cada vez mais acentuada do capitalismo implica destruição de valores concretos. Para se contrapor a isso é preciso revalorizar a tradição. Com efeito, ela seleciona, nomeia, transmite e preserva a memória, o passado. Na sua ausência não há uma continuidade consciente do tempo, mas a mudança do mundo, do ciclo biológico das criaturas que nele vivem. A sua perda, segundo Hannah Arendt, se dá pelo esquecimento, talvez por um lapso que acomete os seres vivos. De acordo com essa autora, "...a memória (...) é impotente fora de um quadro de referências preestabelecido, e somente em raríssimas ocasiões a mente humana é capaz de reter algo inteiramente desconexo (...)". É necessário, então, criar e manter esse quadro, isto é, recuperar a tradição. Isso está intimamente ligado, naturalmente, à preservação da memória. A sua não-conservação e a ausência da tradição levam ao total esquecimento. Portanto, à perda do passado. Sem ele o indivíduo não tem