medo, medo
Marcia Tiburi
Até mesmo os animais sentem medo. Seres humanos que também são animais, do mesmo modo, sentem medo. Na vida humana o medo é mais que uma sensação corporal. Ele é também um sentimento e, como tal, tem sua carga de enigma. Por isso é tão difícil analisá-lo.
Nenhum sentimento consegue se explicar muito bem, mas sabemos que o medo tem certa validade objetiva. Quando alguém sente medo é porque há, ou pode haver, alguma ameaça. Sentir medo, portanto, é não só aceitável, mas algo razoável. E se ele tem sentido, não é errado pensar que ele seja até desejável. Em certa medida, o medo pode até proteger. Porém, ao ultrapassar sua medida aceitável, ou seja, aquela que não causa sofrimento, o medo pode transformar-se em medo do medo, eis o que significa o pânico. O pânico é o medo desmedido que ataca a capacidade de viver e conviver. É uma espécie de medo da vida e de tudo o que ela implica. Alguém em pânico está doente de medo como alguém apaixonado pode estar doente de amor. O problema, em qualquer dos casos não é o sentimento em si, pois não é possível viver a vida humana sem sentimentos. O problema é sempre a sua desmedida.
Que o medo seja um sentimento significa que ele está pleno de uma carga simbólica. Ou seja, que o medo sentido nunca está livre dos seus significados, do modo como nos relacionamos com ele. Não existe um grau zero do medo. O medo não é só uma sensação. Isto quer dizer que nunca experimentamos o medo diretamente, mas sempre por meio do que se diz dele.
O medo e a política
Poucas vezes os filósofos se ocuparam do medo. Thomas Hobbes, filósofo do século XVII que tornou famosa a frase de Plauto “o lobo é o lobo do homem” foi um dos poucos a pensar o medo como um sentimento manipulável que estaria na base da fundação do estado social. A frase explica que o homem, em vez de ser solidário e parceiro de seu semelhante, seria, na verdade, seu maior inimigo. Em função disso, a autoridade política